Ori'stórias / CPOC'stórias

[2011-09-12] A primeira prova "a sério" - Taça dos Países Latinos 2004, Vila Real


Lils, por alturas da TPL 2004 (Vila Real)

Muas, Outubro de 2004, Taça dos Países Latinos. Primeiro dia. Acabadinha de vir da 'dificuldade' dos Iniciados Femininos do Desporto Escolar, em que a Orientação se resume a "caminho, caminho, caminho", fiz a minha primeira prova, envergando, literalmente, a camisola do CPOC. De caminhos passei a calhaus. Nem carreirinho à vista! E ali estava, com idade para fazer Iniciados, capacidade técnica de Infantis e a competir nos Juvenis. LOUCURA TOTAL!! Via as minhas "adversárias" (sim, entre aspas, que, depois de passar pela Dança e a Natação, considero que na Orientação não há disso!) a passar por mim a correr, calhau acima, falésia abaixo, como se não houvesse amanhã, e eu ali, sem fazer a menor ideia de onde estava. Calhaus a norte, a sul, a este e a oeste... Era tudo igual!

"Porque não as seguias?", podem vocês perguntar-se, mas eu, naquele momento, era, oficialmente, uma verdadeira orientista. Tinha número da FPO e tudo, pertencia a um clube, e os verdadeiros orientistas não andam na cola (ah, ingenuidade de "caloira" nestas andanças e dos meus 14 anos!), nem perguntam onde estão: relocalizam-se! (esta parte já era só teimosia de Liliana Oliveira, nada mais).
 
Depois de ter, quase por milagre, encontrado os primeiros pontos, eis que chega o 7º. Corri, andei, subi montes, desci, trepei pedras à maluca, até que deixei de ver pessoas, mas, para mim, estava tudo bem. Subitamente vi um muro de pedra. Referência fixe! Olhei para o mapa, e nada de muro de pedra... Estranho... Havia um monte gigante nas imediações, pelo que Liliana Pernas de Oliveira (sim, que, na altura, ainda as tinha!) começa a escalá-lo, uns bocadinhos correndo, outros mais devagar, até que, finalmente, cheguei ao topo. Sentei-me numa pedra que lá havia e toca de desdobrar o mapa e avaliar a situação. Pois bem, já tinha saído do mapa ao tempo! Do outro lado do monte (montanha, vá) havia uma estrada, estrada essa, supus eu, que era a mesma que ia dar à arena. Fiquei ali sentada uns bons 10 minutos, enquanto os pólos da minha personalidade claramente bipolar se debatiam: de um lado estava a Liliana Derrotista Mal-Humorada Oliveira, gritando que nem uma louca coisas como "Mas por que é que te meteste nisto? És sempre a mesma coisa! Perdida em Vila Real, tão longe de casa... Pega mas é na estrada e desiste já, para fazer uma prova tão má, mais valia ter ficado em Sintra! Mas que raio de desporto é este? Saí eu da Dança, o amor da minha vida, para vir para aqui? Nunca mais cá ponho os pés!", e do outro lado estava a Liliana Teimosa Persistente de Oliveira, que dizia "Não! Não vim de tão longe para desistir! Vou acabar isto, e é já! Não me chame eu Liliana Oliveira se não acabar esta prova, com os pontinhos todos picados!". Ao fim dos tais 10 minutos, os dois pólos estavam empatados, pelo que comecei a descer o monte sem saber muito bem o que ia fazer. Ao levantar-me da pedra, olhei em frente e avistei um Alvão que nunca esquecerei: um manto cinzento, cobrindo montes e vales, com o céu azul como fundo, com aldeias espalhadas aqui e ali, e pequenos bosques (muito pequenos!) distribuidos por aquele pedaço de serra... Lindo!
 
Às tantas, sem pensar, dirigi-me à estrada. "Bem, parece que a Derrotista ganhou... Vamos lá aproveitar este bocado para uma corridinha". Já descontraída, corria pela estrada, com o mapa praticamente no bolso, até que avisto um pequeno parque de estacionamento na berma da estrada, com uma falésia intransponível por trás. "Eláááá!!", pensei. "O meu ponto 7 ficava junto a uma coisa destas!". Parei, olhei para o mapa mais uma vez, e lá apareceram elas novamente, a Derrotista e a Teimosa a gritar cada uma para seu lado. Ignorei-as, olhei para a falésia, sorri e segui. Encontrei um bom sítio para subir, e, sem dar pelo tempo a passar, estava no ponto 7. Naquele momento, se fosse hoje, teria pensado "siga life!", e, com menor ou maior dificuldade, acabei o percurso, com uns estrondosos 35 minutos para o ponto 7, e 2 horas e 27 minutos para um percurso de cerca de 3 km. Já as pessoas com quem estava pensavam o pior, já a organização estava a desmontar a arena, mas eu cheguei, com a prova feita, algo triste por ter feito tanto tempo, mas feliz por ter dado a vitória da discussão ao meu lado persistente.
 
Houve mais três dias de prova, e, às tantas, comecei a apanhar-lhe o jeito. Mais importante que isso, diverti-me! E, o que é verdade, é que, após 6 anos, cá continuo. Nunca na vida corro como corria naquela altura, mas, também, já sei melhor o que faço quando ando de mapa na mão no meio da floresta. Ah, e, verdade seja dita, não era um pequeno precalço como Muas que me tiraria um dos maiores prazeres da vida: a Orientação.
 
Apesar de, em momentos de crise, os dois pólos da minha personalidade me parecerem estar em igualdade de força, a Liliana Teimosa Persistente de Oliveira acaba sempre por levar a melhor!
 

Hãm? Já podia fazer um blog! LOL

 

Lils Oliveira

[Fotografia da autoria de Ana Porta Nova.

Texto inicialmente publicado no Facebook, em 28 de Janeiro de 2011, às 19:54, e reproduzido pelo Luís Sérgio, no seu "blog" "Mais um mapa, mais um desterro!", em 31 de Janeiro de 2011, às 22:28.

Como as ori'stórias são infindáveis, o Portugal "O" Summer 2011 fez-nos regressar a Muas, só que, desta vez, a Liliana venceu o seu escalão, D21A.

Acácio Porta Nova]